Após a modalidade esportiva ter sido regulamentada em 1983, a presença das mulheres no esporte cresce, mas o preconceito não diminui

As mulheres já foram proibidas de fazer muitas coisas ao longo da história. Já foi negado o direito ao voto, ao trabalho e à educação superior. E no país do futebol, também foi proibido a prática do esporte pelas mulheres. Muitas foram ofendidas, humilhadas e até agredidas, porque queriam simplesmente jogar bola.

Contar a história do futebol femino, é contar uma história de resistência. Pois não foram poucas as barreiras e os tabus quebrados. Nessa linha do tempo que começa nos anos 20, a presença das mulheres no esporte já foi vista até como atração de circo.

O Início de Tudo

O esporte mais popular do mundo surgiu em 1863, na Inglaterra. Já no Brasil, a prática se iniciou por volta de 1894, trazida pelo inglês Charles Miller. E se popularizou tanto, que acabou se tornando o esporte mais popular do país e a paixão nacional do brasileiro.

De acordo com historiadores, o primeiro jogo de futebol aconteceu em 1895. Já a primeira partida disputada por mulheres, aconteceu na década de 20, conforme relatos existentes. 

E foi no circo que algumas referências de futebol feminino surgiram. Os jogos eram disputados lá, porque eram considerados como uma performance e não uma partida como a da categoria masculina.

Futebol feminino
Créditos: Acervo Museu do Futebol

A recusa da existência de mulheres no futebol, faz parte de um contexto histórico do sistema patriarcal, onde elas eram relacionadas a trabalhos dentro de um espaço privado, e só pouco a pouco foram alcançando direitos básicos, como o de votar e trabalhar. Enquanto o mundo dos esportes e tantas outras áreas, eram direcionadas somente aos homens. 

Primeira Partida 

A prática do futebol entre as mulheres era realizada em periferias, longe de clubes ou grandes ligas, pois ainda era tratado como espetáculo de circo. Porém, na década de 40, o cenário obteve uma mudança.

Tudo começou quando o recém-inaugurado Pacaembú ia receber uma partida entre os times masculinos de São Paulo e Flamengo. Mas, a novidade era o amistoso preliminar: o Sport Clube Brasileiro contra o Casino de Realengo, dois times inteiramente formados por mulheres.

Futebol feminino
Créditos: Acervo Museu do Futebol

65 mil torcedores acompanharam ali, a primeira partida de futebol feminino da história, disputada no Brasil.

A Proibição

No entanto, na época, o jogo não foi bem visto. Depois de muito escândalo de diversos setores da sociedade, o então presidente Getúlio Vargas assinou um decreto, onde proibia a prática do esporte por mulheres:

"Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país.", dizia o decreto-lei 3.199 de 14 de abril de 1941.

Foram 40 anos de proibição, 40 anos que o futebol ficou restrito aos homens. Nem brincar de bola na rua era permitido às meninas. A justificativa, como aparece num artigo do jornal Folha de S. Paulo em 61, era de que as mulheres possuíam “ossos mais frágeis, menor massa muscular, tronco mais longo…”

Futebol feminino
Créditos: Jornal Folha de S.Paulo

Regulamentação

Em 1979, a prática esportiva pelas mulheres deixava de ser proibida no Brasil, no entanto, o fim da proibição, não significava o desenvolvimento da atividade. Elas não recebiam estímulo de clubes e federações.

No início da década de 80, a atividade foi finalmente regulamentada, com isso, já era permitido realizar competições e utilizar estádios. Clubes como o Radar e Saad surgem como pioneiros no profissionalismo.

Em 1988, a FIFA decidiu organizar o mundial experimental, na República Popular da China. Sendo uma forma de medir o interesse que as pessoas tinham pelo futebol feminino. A seleção escalada para a competição tinha como base o Radar (RJ) e o Juventus (SP), que eram considerados os times femininos mais fortes do país. 

Futebol feminino
Créditos: Acervo Museu do Futebol

Em meio a dificuldades e tendo que viajar para o Mundial com as sobras dos uniformes dos homens, a seleção brasileira feminina garantiu o bronze, ficando em terceiro lugar. 

Primeira Copa 

Em 91, também na república popular da China, foi realizada oficialmente, a primeira Copa do Mundo Feminina e apenas 12 seleções participaram do Mundial. A duração dos jogos eram de 80 minutos e não 90, pois acreditava-se que as mulheres iriam se desgastar. 

E foi da zagueira Elaine, o primeiro gol de uma brasileira em mundiais na vitória sobre o Japão. Elas voltaram para casa ainda na primeira fase, mas a partir dali ganharam um título: o de Seleção.

Futebol feminino
Créditos: Acervo Museu do Futebol

A partir daí, disputaram e ganharam Olimpíadas, deram goleadas, receberam a primeira medalha da FIFA, foram vice, além de começar também, a Era Marta, seis vezes eleita a melhor do mundo. São vários os capítulos dessa história.

Dias Atuais 

Coube à elas provar que de frágeis, nossos ossos não tem nada, que a resistência é tão feminina quanto masculina, que o tronco longo, foi sim feito para o futebol e que a chuteira, é perfeita para os nossos pés. 

E mesmo que alguns padrões tenham sido desconstruídos ao longo dos anos, mesmo que tabus tenham sido quebrados, ainda há muito o que evoluir sobre presença das mulheres no esporte, ainda há uma luta a ser vencida diante do preconceito e desigualdade. A falta de visibilidade, reconhecimento, patrocínio. As ofensas recebidas, não diminuem o talento que elas mostram com a bola nos pés.

 

[+] Leia também: Copa do Mundo Feminina.

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